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A verdadeira vergonha nacional

Como a característica que mais se destaca nas pessoas é a hipocrisia, não poderia ser diferente nos últimos episódios políticos que aconteceram no país.A Câmara dos deputados deu o tiro de misericórdia em sua ética verdadeira, caçando o mandato de um parlamentar, o ex-deputado José Dirceu, sob a acusação de chefiar um suposto esquema de compra de votos denominado "mensalão", cujo mesmo foi motivo da cassação do mandato de outro parlamentar, porque o mesmo havia denunciado mas não havia provas do suposto esquema. O ex-deputado Roberto Jeferson, autor da denúncia, teve também seu mandato cassado em 14 de setembro deste ano.

No relatório do processo de cassação de Roberto Jeferson, o relator, membro do conselho de ética, Deputado Jairo Carneiro do PFL/BA, deixou claro que um dos motivos da cassação de Roberto Jeferson foi denunciar o suposto mensalão, e não conseguir provar. Denuncia sem provas é mentira, logo, quebra de decoro parlamentar.

A CPMI da compra de votos, mais conhecida como "CPI do mensalão", foi criada com intuito de invstigar unicamente a suposta compra de votos de parlamentares por parte do governo. A oposição, assim como faz na CPMI dos correios, transformou a CPI em um palco político. No último dia 16, após 4 meses de sua criação, a CPI encerrou seus trabalhos, sem conseguir sequer atingir os objetivos para o qual foi criada. O deputado Ibrahim Abi-Ackel, relator da CPI, leu seu relatório que não agradou nada a oposição, incluindo logicamente, a maioria da imprensa. No relatório, o deputado afirma que houve repasses ilegais de recursos a parlamentares (traduzindo em miudos, caixa dois), mas que estes não tinham freqüencia ou quantia exata. Também concluiu que não havia provas de que os mesmos foram para comprar votos dos parlamentares, ou ainda, que eram oriundos do dinheiro público. Até hoje, nem mesmo a CPMI dos Correios, a que está mais avançada nas investigações, mas que é um palco de batalhas políticas maior ainda, até mesmo pela força maior da oposição, não conseguiu provas efetivas. Até a CPI dos Bingos, que é composta praticamente apenas pela oposição, não consegue evoluções no sentido de provar a compra de votos, ou o desvio do dinheiro público, ao menos por parte do primeiro escalão do governo.

Para quem assistir a todo o julgamento de José Dirceu na Câmara, o discurso de acusação do relator e a defesa feita na íntegra pelo próprio José Dirceu, ficaria perplexo em ver a fragilidade do relatório de acusação, que não se baseia em prova alguma, apenas em afirmações e interpretações, possívelmente, da convicção pessoal do relator, deputado Júlio Delgado. Segundo Delgado, "todo mundo sabe" que o "mensalão" existe e que Dirceu era o "chefe do esquema". Mas, não ouve provas substanciais apresentadas. Não bastasse a fragilidade do relatório, a defesa de José Dirceu foi veemente, taxativa e rica em detalhes para desmentir todas as acusações que fizeram contra ele. Aproveitou para rebater até mais acusações do que o relator havia colocado no relatório. Foi contundente e não deixou uma única acusação sem respostas. Disse que não poderia ser julgado apenas por não atender a telefonemas de deputados, enquanto ministro, ou porque fora presidente do PT ou porque fora ministro da casa civil do governo Lula. Disse que não queria misericórdia e queria apenas justiça, que tinha as mãos limpas e que se quisesse poderia ter renunciado ao mandato, mas não o fez, porque não teria coragem de olhar nos olhos dos seus eleitores. Mas o que me deixou mais perplexo, foi ver o deputado Alberto Goldman, líder do PSDB, pedir a palavra para dizer que outrora Dirceu havia dito que para o que é "público e notório", dispensaria provas. Ignorou neste momento o senhor Alberto Goldman, que um erro não justifica o outro, e que ele, naquela ocasião, criticara Dirceu pela afirmação. Ignorou também o nobre deputado, o fato de existirem milhares de pessoas que como eu, até hoje não está convecido disto que qualificou como "público e notório". Muitos deputados, segundo a repórter Cristiana Lobo da Globonews, reconheceram que votaria pela absolvição de Dirceu, pela carência de provas, mas temiam a opinião pública caso ele não fosse cassado. Seria uma decisão muito impopular da Câmara. Eu particularmente, acho que eles temiam mesmo é a opinião da mídia, e assim, tomaram uma decisão populista e irresponsável. Como já previa Roberto Jeferson, "é preciso dar carne e sangue aos chacais".

José Dirceu disse que mesmo cassado irá lutar até o fim para provar sua inocência. Caso não consiga, e a justiça prove o contrário, ficará explicito, ao meu ver, a irresponsabilidade dos Deputados por terem cassado o mandato de um parlamentar sem motivos, apenas com base no "achismo", arriscando assim, a reputação da instituição. Sinto-me, já, lesado (mais uma em tantas lesas) apenas pelo fato da Câmara estar correndo hoje este risco, por menor que alguém possa achar que ele seja. Caso José Dirceu consiga provar sua inocência, teremos então, além da reputação da Câmara arrasada, uma injustiça com o parlamentar, seu partido e com todos os mais de quinhentos mil eleitores que o elegeram. Seria uma vergonha nacional e um escândalo internacional. Mais um.

Comentários

DIRCEU, A DEMOCRACIA E NÓS.



O espaço de nossas utopias é o espaço em que a coragem e o sonho dividem nosso coração.

Quanto maior a coragem e a capacidade de sonhar, tanto maior é o espaço que temos para colocar nossos ideais. Uns os têm muito grandes, outros, quase nenhum espaço ou ele é muito acanhado.

A manifestação da Justiça, e falo na mais importante, que é a Justiça Social, é a estrutural. Não reside no espaço de um tempo breve, mas naquilo que tem nela a sua qualidade maior: a perpetuação. A conjuntura derrubou José Dirceu, mas o que é conjuntural tem a qualidade do que é passageiro.

O tempo é quem determinará a perpetuação ou o ostracismo do que no homem existe ou fez, através da História.

Creio que ela estará ao lado de José Dirceu e de Lula.

O que vimos ontem no Congresso nacional já tem dois fatores para que a História perpetue aqueles fatos. Primeiro a própria trajetória de vida de José Dirceu; finalmente em razão de terem através do Legislativo e do Judiciário, arquitetado um arremedo de justiça. E arremedo de justiça é injustiça mesmo, dessas deslavadas.

Não desista. Dirceu não o fará. Não se sinta uma pessoa desolada mas indignada.

Todo homem tem direito ao devido processo legal, diz a Democracia que Dirceu ajudou a restabelecer no Brasil. Mas a sordidez da política negou-a a ele.

Os que o cassarão hoje passarão, são pequenos.

Mas não aquilo que Dirceu sonhou e realizou. Isso não passará.

Nem a sua, nem o minha, nem a nossa capacidade de sonhar, de nos indignarmos mas, principalmente: de continuarmos com a nossa luta!

De cabeça erguida, em nome de toda uma luta que ajudou a restabelecer a Democracia nesse país, sigamos em frente.

Não nos calaram ontem quando todos emudeceram e se humilharam!

Não nos calarão hoje aqueles que são os covardes de sempre!

Podem nos roubar até a Vida!

Jamais a honra e o sonho.

E a coragem de lutar por ele!



Paulo R. de A. David – Paulo da Vida
Anônimo disse…
É difícil rastrear o destino de dinheiro não contabilizado. Ninguém vai declarar abertamente pra que usou um dinheiro que veio de Caixa 2. Mas, na dúvida, ainda acho que é melhor não punir.

Tudo bem que os parlamentares encontram dificuldades técnicas e políticas para chegar a conclusões efetivas, mas não é admissível que valores sejam invertidos, passando o ônus da prova para o acusado.

A mídia vendeu uma idéia de mensalão que agora não tem como desconstruir. Se para os congressistas pouco importa o aspecto jurídico ou legal; para os cidadãos comuns faltam ferramentas intelectuais para fazer avaliações com propriedade. Logo, o que é massivamente digulgado, torna-se realidade automaticamente. Não importa se são especulaçoes, hipóteses ou probabilidades, o campo midiático tem uma capacidade espetacular de agregar credibilidade a qualquer fato, através da simples veiculação.

Não importa se o mensalão será ou não provado, nem mesmo se ele existiu ou não. Ele já é uma realidade, para a oposição, para a mídia e, consequentemente, para a população.

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