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A Política é nobre!

A palavra "política" deriva do grego politikos, que remete a ideia de algo que está diretamente relacionado a discussões e execuções relacionadas à polis, ou seja, à cidade. E isso, porquê na Grécia antiga ainda não se utilizava a noção de estado ou nação, ou de organizações sociais com complexidades maiores do que as cidades.
 
A política é a ciência ou arte utilizada para dirigir o cotidiano de um grupo de pessoas, uma comunidade ou Estado. Na execução da política, busca-se o poder, com intuito de colocar em prática ideias e ideais defendidos. A realização da política em si, está diretamente ligada a arte do convencimento, seja ele obtido de qualquer forma. Em qualquer discussão, sobre qualquer assunto, quem tenta transmitir uma informação com intuito de convencer outras pessoas de que sua ideia deve ser acatada, está exercitando um ato político.

Existem muitas maneiras de se convencer alguém a acatar a ideia de um grupo. Pode ser através da comunicação verbal, escrita, da expressão artística, das trocas de bens ou favores e dos conchavos e até mesmo do uso da violência. São inúmeras as formas de se fazer política, ou seja, de se alcançar o poder. Estas podem estar dentro ou fora de um conjunto de regras políticas definidas por um segmento social, pelas leis que regulam um Estado ou pelos costumes de um povo.

Ciência humana ou exata?

A política é uma ciência humana. Porém, lida diretamente com a retórica que deve incluir em suas bases a lógica. Na elaboração de retóricas políticas a serem disseminadas para o convencimento ou na interpretação destas por parte do ouvinte, é importante, por parte deste, o conhecimento lógico aprofundado para facilitar a identificação eficaz da lógica ou de falácias e sofismas possivelmente presentes.

Já para os verdadeiramente leigos, desprovidos de malícia, a chamada "intuição" pode ser um mecanismo mais eficaz para a identificação falsas idéias. Até mesmo pela ingenuidade da ignorância sobre as ideologias políticas, essas pessoas, geralmente, são capazes de "sentir o cheiro" da mentira, de um argumento falacioso, mesmo que não saibam definir muito bem o que seria uma falácia, ou o histórico político de alguém. A estas, inexiste (ou pouco existe) o preconceito, ao ponto de não comprometer essa natural habilidade.

A dificuldade maior para identificação de retóricas lógicas e verdadeiras fica justamente por quem está "no meio do caminho" do aprendizado político. Estas pessoas tem um baixo ou relativo "conhecimento político", mas muitas vezes traz arraigado preconceitos, dogmas e são alienadas por paradigmas inferidos a partir de premissas falaciosas apregoadas como verdades em retóricas convincentes. A estes, que já não são ignorantes, mas que não são providos de grande conhecimento lógico ou do conteúdo aprofundado em discussão, resta apenas o esforço maior para o aprendizado, o tempo e a disposição para o re-aprendizado constante, desde que despido dos preconceitos, uma vez não exista retrocesso do conhecimento. Ao contrário dos que são realmente leigos ou "ignorantes", seus "narizes" já são "contaminados" por uma "falsa malícia" plantada, o que os tornam incapazes de sentir o "cheiro" de cada retórica alheia.

Regimes políticos: Democracia, aristocracia, autoritarismo e totalitarismo.

Um regime político define como são organizadas as instituições de uma sociedade no exercício político. Difere de forma de estado ou de sistema de governo. Os regimes políticos mais antigos conhecidos são o Absolutismo, Caciquismo, Czarismo e a Ditadura. Os regimes políticos mais atuais são a Democracia, o Autoritarismo e o Totalitarismo.

A democracia (junção de demo e kratos), palavra que vem do grego e que significa "o poder que vem do povo", identifica regime político cujo qual todas as pessoas decidem, por vontade da maioria, quem deverá permanecer no poder e exercer a representação de toda a sociedade em assuntos complexos do cotidiano social, ou por participação direta das pessoas por meio de mecanismos que permitam. 

A decisão política deve ser exercida pelo voto popular, com o direito da participação de todos e com a participação efetiva de mais da metade da população, em igualdade de condições. Assim, todo o cidadão tem o direito ao voto, e cada voto tem igual valor.

É caracterizada pelo Estado Democrático de Direito, que determina algumas regras básicas de processo político e direitos dos cidadãos. Deve contemplar liberdade de expressão e de imprensa, leis e regras, o que inclui responsabilidades no uso destas liberdades e direitos.

A Democracia é originaria da Grécia antiga, e embora tenha também suas falhas, hoje é tida como o regime mais adequado na representação da vontade da população de forma justa, implementado pela maioria dos países com melhores índices de qualidade de vida.

A aristocracia (um tipo de oligarquia, ou seja, do interesse de um grupo) é uma forma de governo, que assemelha-se a uma democracia "deformada", onde apenas um grupo considerado "melhor" decide (ou tem mais força para decidir) os rumos políticos de uma dada sociedade. Este grupo pode ser representado pelo Clero, por classes sociais (por exemplo o poder econômico, conglomerados, etc), por grupo de pessoas mais estudadas, por militares ou outros segmentos da sociedade.

De qualquer forma, a aristocracia na prática se apresenta como uma democracia deformada para excluir uma grande parte da sociedade das decisões políticas, dando a participação política a apenas um grupo de tamanho inferior à metade da população total.

Resumidamente, na aristocracia, apenas um grupo menor de pessoas tem direitos políticos, ou direito ao voto, ou há diferenciação no peso do voto de determinados grupos ou cidadãos, de maneira que a opinião da maioria na indicação de seus representantes não seja efetivamente colhida ou respeitada, deixando assim de caracterizar o poder que vem "do povo" para caracterizar na prática o poder que vem "dos melhores". 

É preciso salientar, no entanto, que a definição de quem sejam "os melhores" sempre será algo questionável.

Já no caso do autoritarismo, também denominado por Aristóteles como "tirania", é o regime onde as forças políticas e de justiça são impostas por um grupo minoritário, bem reduzido, à revelia da maioria, sem que esta possa escolher, geralmente obtida por uso da força e da violência. Caracteriza-se pela autoridade do estado sobre todos, e por manter o povo alienado do processo político. 

Busca despolitizar o povo, como medida para dificultar que o mesmo possa tomar medidas de seu próprio interesse, que não sejam de interesse da classe dominante. Não há garantia de direito nenhum para quem pensa diferente. Pode contemplar a censura da liberdade de expressão das pessoas e dos meios de comunicação. Exemplos de regimes autoritários são os governos militares que ocorreram em quase toda a América Latina na segunda metade do século XX, apoiados e financiados pelo governo dos EUA em uma iniciativa que visaria evitar a crescente instalação de regimes totalitários ou democráticos de esquerda no mundo, durante o período da guerra fria. No caso do Brasil, os militares depuseram através de Golpe de Estado em 1964, um governo com viés político de esquerda (Jânio Quadros - João Goulart) que havia sido eleito e referendado pelo povo sob regras democráticas da constituição daquela época, atendendo ao interesse de uma parcela menor e mais abastada da sociedade.

No Totalitarismo, uma pessoa ou grupo que chega ao poder não reconhece limites para o exercício do mesmo. O povo, por sua vez, não é mantido alienado do processo político, porém é doutrinado e obrigado a aceitar apenas a ideologia política do governo, bem como suas ações. Ao povo não há garantias de direitos. Embora o povo seja mantido consciente dos procedimentos e da ideologia política do governo, neste sistema é permitido a existência de apenas um partido político, sendo todos obrigados a aceitarem este partido e as ideologias e decisões tomadas internamente, mesmo que essas não representem a vontade popular, ou não garantam direitos à minoria. Existe também, assim como no autoritarismo, a censura dos meios de comunicação. Exemplos de governos totalitaristas estão os de direita como o regime fascista (Mussolini, Itália) e nazista (Hitler, Alemanha), e os de esquerda como os regimes socialistas (URSS, Lenin e Stalin), (China, Mao Tsé Tung), (Cuba, Fidel Castro), etc.

Ideologia, esquerda, direita e centro.

A ideologia é um conjunto de ideias propostas que defendem interesses de um segmento social e diferencia a intenção de um grupo político.

Desde os ideais do iluminismo e da queda da Bastilha, ficou conhecido como “direita política” o grupo político que defendia o “status cuo” e ideias de interesse do Clero e da Aristocracia, que se assentavam ao lado direito da assembleia francesa. É que no lado direito do parlamento, assentavam-se os representantes de dois diferentes grupos sociais da época que tinham muitos interesses em comum. Eram eles designados como o "primeiro estado" e o "segundo estado". O primeiro estado era composto pela família real e grandes burgueses, pessoas ricas e influentes, próximas à família real às quais eram conferidas posse e controle de muitas terras, como duques, marqueses, condes, viscondes, barões e senhores. Já o segundo estado era composto pelo Clero, ou seja, os líderes e integrantes da igreja católica.

Já como “esquerda política”, ficou conhecido, o grupo de políticos que se assentava a esquerda na assembleia francesa, que eram os representantes do que era conhecido na época como "terceiro estado", ou seja, um grupo social composto pelos pequenos burgueses, artesãos, camponeses e artistas. Em outras palavras, estes parlamentares representavam as ideias e interesses de um conjunto de pessoas composto pelos pequenos comerciantes da época, artistas, lavradores e trabalhadores de uma maneira geral. Em geral progressistas e revolucionários que defendiam ideias de igualdade social ou ligadas aos interesses dos camponeses e pequenos burgueses de origem pobre. Era frequentemente referido pelo Clero, pela alta burguesia e pelos defensores da monarquia de forma pejorativa. 
 
Para ver uma definição mais detalhada sobre esquerda e direita, clique aqui.
 
Mais recentemente, nasceu a expressão “políticos de centro”, que em tese, não teriam uma ideologia bem definida dentro dos espectros de esquerda e direita, mas defenderiam neste contexto apenas ideias do “interesse de todos”.

Existem grupos políticos que defendem que esta distinção ideológica atualmente não existe. Na realidade ela sempre existiu, muito antes da revolução francesa, e até a atualidade, com interesses e posições antagônicas que dividem grupos e fazem a guerra política em todo o mundo. É evidente que as pessoas tem demandas diferentes umas das outras. Sendo assim, inevitável que as pessoas se agrupem para defenderem interesses comuns. A replicação da falsa ideia de que a distinção de ideologias não é mais aplicável, é proveniente, justamente, de uma ideologia que tenta excluir, ou seja, alienar uma parcela de pessoas do conhecimento político lógico.

A esquerda política representa os interesses das minorias, dos menos favorecidos. Paradoxalmente, em tese, representa interesses da maioria popular, por serem esses tidos como excluídos e identificados em grupos minoritários, geralmente ausentes nas decisões sobre os rumos da sociedade. A esquerda procura fazer a representação desses grupos perante o poder, de forma representativa. Desta maneira, políticos de esquerda são geralmente rotulados como "assembleístas", por praticarem muitas reuniões alongadas, exaustivas e envolvendo grande quantidade de debatedores, procurando ouvir e representar o interesse de todos, tanto quanto for possível. Isso resulta geralmente em ideias mais complexas e que requer mais tempo e atenção para devida compreensão.

Já a direita representa interesses das classes dominantes, ricas ou poderosas, uma minoria da população. Em regimes econômicos e políticos onde vigoram as regras de um capitalismo selvagem, dinheiro e posse podem ser sinônimo de um "poder" (paralelo) maior do que o "poder" do próprio governo (oficial). Os interesses da direita são, geralmente, muito coesos e de simples explanação. Ademais a classe dominante, geralmente, detém o poder financeiro e o controle sobre meios de comunicação, fatos que fazem deles persuasores eficazes.

A democracia, por sua natureza, é inclusora da maioria na atuação política e assim, naturalmente ligada a um grupo de esquerda menos radical. Na contramão, o autoritarismo e a exclusão política diminui a atuação política da maioria, portanto mais intimamente ligado aos interesses da direita. Todavia existem grupos e correntes políticas de esquerda radical que defendem formas totalitárias como prática para se conseguir o poder para o povo, o que acaba por inferir-se uma contradição com a natureza ideológica, já que tais práticas incorrem em opressão. Assim como grupos de direita que defendem o poder tomado de forma democrática, o que também configura uma incoerência com os princípios da direita, pois os interesses da "maioria" tendem a ser conflitantes com tal ideologia. A direita, apesar de em algumas vertentes apresentar-se como defensora da igualdade de oportunidades, não abre mão do "status quo", onde algumas pessoas nascem e são expostas a situações de vantagem sobre outras, o que é incoerente com a defendida igualdade de oportunidades. Não se pode ter igualdade de oportunidades quando as pessoas partem de patamares diferentes. Desta forma, as oportunidades jamais serão iguais. Na democracia, o interesse da maioria deverá sempre prevalecer sobre o da minoria, respeitado-se as instituições e os direitos fundamentais e individuais.


Sistemas econômicos

Sistema econômico é o conjunto de regras que juntos regulam a produção, distribuição e consumo de bens e serviços em uma dada sociedade.

Os sistemas econômicos evoluíram ao longo da história.

Atualmente, os mais comuns encontrados são o capitalismo (ou liberalismo), o socialismo e as economias mistas. Os mais utilizados atualmente são os modelos de economias mistas, que na realidade são misturas de sistemas puros em diferentes proporções. 

Dentre os sistemas de economias mistas, encontra-se o neoliberalismo (para onde inclinou-se os EUA, parte da Europa e da America Latina) e o socialismo de mercado (países nórdicos e para onde inclina-se a China moderna).


Valores, ética, crime e moral.

O conjunto de valores são as normas que estabelecem o grau de importância que uma pessoa ou grupo de pessoas emprega em um objeto ou cumprimento de alguma regra. Já a moral, é o conjunto de valores que representam o costume de um povo, ou de um grupo social. A moral representa os valores e regras que são aceitos por padrão de comportamento em dado grupo social. Há autores que definem a ética como sendo uma ciência que estuda a moral. De outro lado, alguns autores definem a ética como um conjunto de valores que sugere de maneira fundamentada como seria a melhor forma para se viver em sociedade. O crime, também conhecido como ilícito, é toda conduta que extrapola as regras formais de um grupo social, expressas em lei (oficial). O crime só existe quando é possível julgar alguém como culpado, sem dúvidas, pela violação da regra que foi formalmente pre estabelecida. Infere-se então, nem tudo que é moral, é ético ou lícito. Nem tudo que é lícito, é ético ou moral. Porém, tudo que é ético deve ser lícito e moral. Os mestres sofistas ensinavam que um julgamento moral não pode ocorrer fora do contexto cultural em que ele ocorreu, sob pena de incorrer-se em injustiça.

O Fisiologismo

Normalmente quando alguém, por motivos particulares, se omite ou se abstém ao debate exaustivo de ideias para o convencimento, dá-se espaço para outras práticas, menos morais, de convencimento, através de trocas de bens ou favores pelo espaço para participação do poder. Essa abstenção é nociva a política sadia e normalmente se dá por interesses particulares ou, realmente, por receio de ser convencido, ou seja, politicamente vencido. 

O fisiologismo é facilmente confundido com corrupção, por ser muitas vezes também considerado imoral. A corrupção, por sua vez, diferencia-se do fisiologismo, pois esta representa ações ilícitas, necessariamente contra a própria consciência do praticante do que seria "o certo" (o que é difícil de se provar), ou contra as leis vigentes (menos difícil de ser provado).

Uma pessoa ou um grupo de pessoas fisiologistas, geralmente não se sensibilizam com demandas de terceiros, ideologias ou programas de governo, fazendo política apenas na defesa de interesses particulares.

Pragmatismo político

A ideologia, embora indispensável, existe apenas no plano teórico. De pouco servem as ideias se não podem ser colocadas em prática, efetivamente. Muitas vezes, é melhor que apenas parte de um conjunto de ideias seja implementada, do que inviabilizar todo o conjunto. 

O pragmatismo político envolve atitudes nem sempre populares ou tidas como “politicamente corretas”, mas necessárias para implementação, ao final, de um conjunto total de ideias. Em situações em que demandas não podem ser alcançadas apenas através da retórica, muitas vezes por ser barrada por políticos fisiologistas, o pragmatismo é responsável por atender as demandas destes, como forma de barganha para que o ideal seja atingido. 

O pragmatismo é a tomada de ações práticas necessárias para a implementação de um conjunto de ideias, ou seja, uma ideologia. Dentre essas ações, estão o convencimento de quem detém um poder, através da retórica ou da ação política fisiológica. Algumas vezes, utiliza-se de corrupção com intuito desse convencimento.

A corrupção

É quando no intuito de atender a uma demanda particular, o político pratica atos ilícitos, contrário ao que seria correto em sua própria consciência, ou na lei. Em suma é o ato de infringir a lei ou sua própria consciência para conseguir um bem particular ou outro interesse que julgue necessário.

A corrupção é nociva à política em todo o mundo. Alguns sistemas políticos favorecem o surgimento de corrupção, outros inibem. Porém, a corrupção é uma prática que ocorre em todo o mundo, pois é uma característica de fraqueza humana.

O peculato

É a apropriação indevida de recursos públicos ou privados por agente público que o administra. Em suma, é o desvio de recurso administrado por um funcionário público, para si ou para terceiros. O peculato também é uma prática (e um crime) prejudicial para a política e que ocorre em todo o mundo.

A Exclusão política

A política é exercida por alguém que convence alguém. Logo, alguém será dominante em suas ideias, e o outro será o dominado. Toda exclusão política nasce do complexo de inferioridade de alguém que exerceu força alienante sobre parte da população. Nasce do medo de que a população tenha o conhecimento de como se faz política, como funcionam os meios, a representação de cada interesse e, à partir disso, passe a agir mais ativamente por seus interesses.

É comum o exercício político no sentido da desqualificação da atuação política dos leigos. Como exemplo, existem muitas insinuações de que analfabetos ou pessoas com baixa escolaridade não teriam condições de votar ou de atuar politicamente. Certamente pode haver mais dificuldade para que cada um exerça sua vontade. Entretanto, dizer que tais pessoas não tem o direito de participarem das escolhas do rumo da sociedade onde vivem, e por consequência, de sua vida cotidiana, configura afirmação preconceituosa, representa visão egoísta ou alienada e visa apenas a exclusão política de um grupo de pessoas, cujas quais se pre-julga, não defenderiam os mesmos interesses do grupo que às aliena. Dessa maneira, afirmam de forma excludente alguns, política seria apenas para quem tem "um mínimo" de conhecimento. Esse tipo de preconceito vem sendo combatido em todo mundo democrático moderno.

O ser humano é político por natureza. Embora tenha sido muito divulgado a ideia de que política, assim como religião e torcida esportiva não se discute, a própria definição da palavra "política" aponta exatamente para o contrário disso. Portanto, tal informação quando divulgada, tenta excluir as pessoas (que aceitarem) das discussões. Essa afirmação é tão somente mais uma ação política na tentativa de excluir um número maior de pessoas do poder e, consequentemente, das decisões a serem tomadas. Religião é baseada em dogmas e crenças. O mesmo pode-se dizer de preferências esportivas, movidas pela paixão. Mas nunca devemos dizer o mesmo da política, pois esta, se convence com base na lógica e na retórica. Deve-se sempre encorajar todo e qualquer cidadão a participar ativamente das discussões políticas, das decisões e também das ações.

Existem também frequentes ações de exclusão e alienação política, que agem na promoção artificial da “aversão à política”. Nessa prática, são utilizadas diversas formas para transmitir a certeza geral de que política é algo “sujo”, de que não é interessante e não serve para “gente de bem”. Dessa maneira, também promovem a ideia de que “políticos são todos iguais”, minimizando as diferenças ideológicas, promovendo assim o desinteresse da população pelo tema. Resultante desta ação também é a ideia de promover na democracia o voto nulo ou o chamado “voto de protesto”, limitando a atuação política dos interesses da maioria e desencorajando-os de que pesquisem e procure entender a melhor opção, a busca do ideal. Assim, com toda essa retórica, conseguem manter o status cuo, e impedem que a maioria das pessoas se interesse pela política e possam mudar a realidade conforme seus interesses.

A ausência de transparência nas atividades políticas é outro fator que exclui a grande parcela da população sobre as informações do que corre nos porões do sistema político. A falta de transparência pode contribuir muito para a proliferação de práticas políticas de interesses minoritários que criam raízes culturais nesses meios e podem levar muito tempo para serem dizimadas. Quanto maior a transparência, maior será a indignação social perante políticas que defendam interesses minoritários e maior o avanço político no sentido da participação popular. A transparência política, muitas vezes, pode escandalizar a sociedade, dado os meios, muitas vezes anti-éticos, utilizados por políticos em negociações fisiológicas e muitas vezes corruptas. Somente o tempo de exposição social a uma transparência maior das ações de governo é capaz de educar e criar uma cultura política na sociedade. Cabe a sociedade exigir transparência das ações de governo e a isenção nos meios de comunicação.

Toda ação de exclusão política tem objetivo de funcionar como vírus, que se auto espalha entre as pessoas, principalmente, as leigas, dada a simplicidade de sua retórica, seja ela lógica ou falaciosa. A fácil assimilação das simplistas retóricas excludentes, induz ao incauto, a repetição e a propagação das referidas idéias errôneas, amparado no conforto de acreditar que domina o conteúdo que replica.

O quarto poder subterrâneo

Embora o modelo de poderes independentes e harmônicos, que se auto-regulam e se auto-fiscalizam (entre si), proposto por Montesquieu, é adotado na maioria dos países do mundo, geralmente no modelo que contempla três poderes (executivo, legislativo e judiciário), existem filosofias que apontam para a prática de mais poderes atuarem fortemente na politica.

Na atualidade, a imprensa de modo geral, exerce uma das maiores forças políticas, senão a maior. Por atingir um grande número de pessoas, muitas vezes formadoras de opinião, esta tem um grande poder de convencimento, dado a aceitação e a influência de suas informações divulgadas. Segundo Joseph Goebbles, ministro da propaganda do III Reich, tido como um dos maiores propagandistas políticos da história, “Uma mentira, repetida mil vezes, torna-se verdade”. Assim sendo, os meios de comunicação são comumente alvos das forças políticas com intuito da censura e do controle. A censura dos meios de comunicação pode dar-se por diversas formas, sendo por leis, decretos, ou acordos políticos e financeiros com as corporações (os patrões da imprensa). A imprensa deve ser livre, embora deva ser regulada, assim como todo o poder. O poder em excesso corrompe, dada a vulnerabilidade humana nesse sentido. A função da imprensa é sempre a de informar, com isenção, a realidade dos fatos. A imprensa e os meios de comunicação jamais devem ser partidários, guiados por ideologias políticas ou interesses privados no momento em que servem de meio de propagação de notícia, pois espera-se sempre o relato de fatos (verdadeiros) nos noticiários e não a opinião de uma pessoa ou grupo de pessoas. A imprensa não pode exercer força de propaganda para governo, não pode defender interesses de governo, de partidos políticos, tampouco servir de oposição ao governo ou mesmo de perseguidora de partidos políticos. Ela deve procurar pautar-se na neutralidade e cabe a sociedade exigir essa prática. O governo também pode editar regras que visam regular essa atuação, contudo, deve-se acima de tudo, ter o cuidado de não amordaçar a imprensa e fazê-la instrumento a serviço do governo. Lamentavelmente, temos que ter ciência de que a imprensa é guiada por seres humanos, que muitas vezes tem orientação ideológica ou fisiológica viciada.

Alternância de poder

Partindo da premissa de que humanos tem demandas diferentes e que estas são dinâmicas, a alternância de poder é saudável para a política madura e democrática. Além disso, já dizia Eça de Queiroz, em seu raciocínio óbvio, porém brilhante, “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”. 

Todavia, é necessário que um desequilíbrio de interesses seja alcançado pelo lado político dominante, para que a demanda pela alternância seja evidente. Assim, a alternância de poder revela-se benéfica quando ocorre de maneira natural, como demanda social e não por uma imposição artificial de um grupo minoritário. Tal demanda pode ser detectada naturalmente por um processo eleitoral limpo e transparente.

Política e civismo

Participar da política, estudar, conhecer e discutir ideologia política é atitude civilizada e deve ser fomentada. A ideia de que política não se discute é perniciosa e deve ser rechaçada. A política deve ser discutida por todos, incluindo as minorias de todas as raças, crenças e camadas sociais. Cada assunto político deve ser discutido até a exaustão, para que não paire dúvidas de que a ideia verdadeira e mais representativa irá prevalecer. As pessoas que “fecham-se” e não estão dispostas a ouvir, aprender ou a serem convencidas, refletem na verdade o medo descabido da derrota política. São as pessoas que acreditam “saber o suficiente” sobre aquele assunto e acreditam ter “opinião formada”. Na realidade, deixam de ser dinâmicas para serem estáticas, privilegiam a política excludente em detrimento da participativa. A política sadia existe para que se convença e para que se seja convencido. Política é uma atividade nobre, assim deve ser encarada sempre, e deve ser exercida principalmente pelas pessoas de boa fé. Ocorre que a baixa presença de pessoas de boa fé na política, favorece a presença de pessoas que estão apenas em busca de oportunidade para atingirem objetivos privados. Todas as pessoas devem eleger seus ideais, participar, decidir e guiar seus próprios rumos. A exclusão ou a alienação política, a ausência das pessoas comuns, de bem, nas discussões e nos meios políticos, contribui para a existência e proliferação das práticas políticas fisiológicas e da corrupção, em detrimento da discussão e da prática sadia, e da defesa dos interesses plurais.

Autor: Adriano da Silva, Militância do PT, Fevereiro de 1997.

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